sábado, 11 de julho de 2009

O duro exercício da perda

"O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira?" (Mt 16.26)

Meu vizinho Júnior está muito mal. Sua única filha foi concluir os estudos fora do país. Ele confessou-me que não estava preparado para isso. Sempre a teve por perto e não imaginava que esse momento chegaria. Para completar a tristeza, a última notícia que recebeu da filha foi através do namorado dela. Agora ele não tem mais dúvida: a filha não lhe pertence mais.

Nos últimos dias, várias pessoas tem me perguntado qual a razão que leva alguém com quase 80 anos, muito rico e já tendo ocupado os principais cargos desta nação, incluindo a própria Presidência da República, insiste em não deixar a direção do Senado Federal, mesmo já tão desgastado diante de sucessivas acusações de corrupção, desmandos administrativos e uso indevido do erário público.

Numa pesquisa na Princenton University, estudantes foram separados randomicamente em dois grupos. Ao primeiro foi mostrado um determinado tipo de caneca e perguntado quanto estariam dispostos a pagar. Em média, eles responderam 3,50 dólares. A cada membro do segundo grupo foi dado o mesmo tipo de caneca e logo depois perguntado quanto precisaria ser pago para que a devolvessem. As respostas foram notáveis: em média, 7 dólares !

É inegável que as pessoas destam perder quase tudo. Na verdade, muitos estudos, como o acima citado, descobriram que uma perda desagrada cerca de duas vezes mais do que um ganho igual pode agradar. É por isso que a maioria de nós faz tudo que pode para evitar o risco da perda. E quando isso acontece não nos conformamos. Meu amigo Júnior e o senador José Sarney que o digam.

Publicado no jornal O Povo