sábado, 21 de junho de 2008

A vitória da humildade

O orgulho leva a pessoa à destruição, e a vaidade faz cair na desgraça.
(Pv 16.18)

Confesso que cheguei a pensar que os resultados demonstrariam que ela tinha razão. Primeiro, a derrota para Bielo-Rússia, como conseqüência imediata do desentendimento com o treinador Paulo Bassul. Em seguida, o desafio de uma repescagem, tendo pela frente Angola e a sempre temível equipe cubana.

Felizmente, a seleção feminina de basquete do Brasil garantiu vaga nos Jogos Olímpicos de Pequim ao vencer Cuba por 72 a 67 no pré-olímpico mundial, no último domingo, em Madri. O resultado deu o direito ao Brasil de disputar sua quinta olimpíada. E, o mais curioso, aconteceu sem sua principal jogadora, a ala Iziane, afastada da equipe pelo treinador. A atleta ficou irritada por ter sido sacada do time durante o jogo com a Bielo-Rússia e por isso se recusou a retornar à quadra quando solicitada a jogar novamente.

Caso você se sinta tentado a condenar Iziane, lembre que ela não está sozinha nesse tipo de atitude. Sem exceção, todos nós temos alguma cota de orgulho. O duro é que quando menos esperamos, especialmente sob pressão ou ameaça, nossa soberba nos rouba o controle emocional, sabotando nossa paz. E, quase sempre, destruindo relacionamentos, carreira e até a própria saúde.

Na partida contra Cuba, a jogadora Micaela foi a principal pontuadora, com 22 pontos. Mas, cá para nós, a cestinha em todo esse episódio foi mesmo a humildade. Mais uma vez, aprendemos o valor dessa rara qualidade humana. Ocupamos um lugar no mundo, mas não somos o centro dele. Nosso ponto de vista é importante, mas é sempre a vista de um ponto. Temos o direito à voz, mas a última palavra nunca é nossa. Nossa individualidade faz a diferença, mas é no coletivo que reside a maior força.

domingo, 8 de junho de 2008

Aprendendo com as tempestades

“De repente, uma grande tempestade agitou o lago,
de tal maneira que as ondas começaram a cobrir o barco.”(
Mt 8.24)


O dia transcorreu dentro da normalidade. Seria mais uma noite tranqüila de descanso para pegar o batente na manhã seguinte. Pouco depois da meia-noite, tudo fica diferente. Surge um primeiro clarão, seguido de um enorme estrondo. Minha esposa grita apavorada. Incontinente, minhas filhas entram no quarto correndo e, morrendo de medo, nos abraçam.

Nunca tinha visto aquilo. Normalmente, sou de reagir rápido em situações difíceis. Mas, agora, a única coisa que conseguia fazer era, agarrado à minha esposa e filhas, observar atônito os repetidos relâmpagos e trovões, cada vez mais intensos. Seria o fim do mundo ? Tudo acabaria numa sexta-feira, no sexto dia do sexto mês do ano ? E como estariam aquelas pessoas sozinhas e sem abrigo ?

Foram exatamente duas horas de muito pavor. Quando tudo aquilo passou, fiquei curioso em saber o que tinha acontecido. Os especialistas chamaram o fenômeno atmosférico de Zona de Convergência Intertropical. O fato de se aproximar bastante do litoral de Fortaleza acarretou o surgimento de nuvens do tipo cumulus nimbus e, em conseqüência, a enorme quantidade de raios e estrondosas trovoadas.

No dia seguinte, conversando com as pessoas sobre aquela experiência inesquecível, concluí que, apesar do medo, aprendera coisas importantes. Somos bem mais vulneráveis do que admitimos. Como é valiosa uma companhia nas horas mais difíceis. Nossa diferença não está na tempestade que a todos aflige, mas em como reagimos no meio dela. E o quanto é bom poder agradecer ao Único a quem a natureza obedece.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Uma vida totalflex

“Vigiem e orem para que não sejam tentados. É fácil querer resistir à tentação; o difícil mesmo é conseguir.” (Mc 14.38)

Enquanto o governo brasileiro recebe críticas internacionais à produção de biocombustíveis, o mercado nacional de automóveis supera a marca histórica de 4 milhões de veículos com motores totalflex, que consomem álcool e/ou gasolina, aproximando-se da frota americana, por enquanto a maior do mundo.

Confesso que não sou um bom usuário de veículo com motor totalflex. Tenho o hábito arraigado de somente utilizar gasolina. Recentemente, entretanto, decidi fazer diferente e enchi o tanque do carro com álcool. Logo nos primeiros quilômetros, o automóvel começou a falhar. Voltei ao posto e o frentista explicou que normalmente isso acontece com quem só abastece com um tipo de combustível.

Fiquei pensando que talvez sejamos também assim nas nossas vidas. Há pessoas que confiam somente em si. Agem como se Deus não existisse, baseando suas vidas somente no dinheiro, bens e status que possuem. De outro lado, existem aqueles completamente passivos. Colocam tudo sob a responsabilidade de Deus, como se não tivessem nada a realizar.

Não sei se vou me acostumar com o uso alternado de gasolina e álcool. Mas uma coisa é certa. Deus deseja que tenhamos uma vida totalflex. Ele sabe que nossa felicidade depende do equilíbrio entre a disposição para fazermos a parte que nos cabe e a fé acolhedora dos resultados que, em última análise, estão absolutamente fora do nosso controle.