sábado, 25 de outubro de 2008

Viver é correr riscos

"Não conte vantagem a respeito dos seus planos para o futuro, pois você não sabe o que vai acontecer amanhã". (Pv 27.1)

O vigia Aldo José da Silva certamente nunca imaginou que tamanha tragédia pudesse acontecer com sua querida Eloá. Também não passou por sua cabeça que teria uma crise de hipertensão durante o cativeiro da filha. E muito menos que, ao ser removido pelos médicos, sua imagem seria divulgada por órgãos de impresa, permitindo a descoberta de sua verdadeira identidade.


Minha esposa tem uma grande amiga que adora festejar aniversários. Por isso, passou mais de um ano preparando a celebração dos seus 40 anos. Cada detalhe foi cuidadosamente planejado para que fosse um dia inesquecível. A menos de um mês da festa, ela foi surpreendida pelo desaparecimento prematuro de um dos seus melhores amigos e talvez o maior incentivador da comemoração das suas quatro décadas.


Precisamos admitir que não temos controle total sobre nossas vidas. Isso vale especialmente em relação ao nosso futuro. Viver é correr riscos. Não se trata de ignorá-los mas saber enfrentar riscos calculados. E isso se faz trilhando o caminho da preparação oportuna e diligente. Mas sempre aprendendo a acolher os resultados do que nos acontece, na confiança de que Aquele lá de cima conhece perfeitamente o que é melhor para cada um de nós.

sábado, 18 de outubro de 2008

Que amor é esse ?

"O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes..." (1 Co 13.4)

Lindemberg Alves estava incorformado com o fim do relacionamento. Não conseguia admitir a perda de Eloá Cristina, sua eterna namorada. Por isso, quando a situação começou a sair do seu controle, Lindemberg radicalizou. Manteve Eloá e sua colega Nayara Vieira em cativeiro, durante mais de 100 horas, sob a mira da polícia e a viglância permanente de toda a imprensa.

O final de tudo isso não poderia ser mais trágico. Após invadir o cativeiro, a polícia c
onseguiu prender Lindemberg. A jovem Eloá, depois de sofrer dois tiros, passou por duas cirurgias para retirada de uma bala na virilha e outra na cabeça. Não resistiu à perda de massa encefálica e teve morte cerebral. A colega Nayara, apesar da imprudência de retornar ao cativeiro, foi atingida na face. Porém, depois de uma operação bem sucedida para retirada da bala alojada na bocheca, não corre mais risco de vida.

É pouco provável que Lindemberg imaginasse onde tudo isso iria terminar. A dor e o sofrimento dos pais de Eloá pela perda prematura e súbita da filha querida. A colega Nayara também ficará com uma marca na face, lembrança indelével daquela tragédia. E o próprio Lindemberg dificilmente escapará da morte. Vítima do código de honra de seus companheiros de prisão. Ou, quem sabe, sendo alvo de linchamento de uma multidão ainda inteiramente revoltada com esse ato tresloucado.

A atenção de toda a imprensa e dos especialistas de plantão se volta agora para tentar encontrar eventuais falhas na operação da polícia. Mais importante, talvez, seria refletirmos sobre as causas que levam uma pessoa a cometer tamanha insanidade. Quem sabe não descobriríamos o quanto carecemos em aprender a receber e compartilhar o amor do Alto que, antes de tudo, é "paciente, benigno e não arde em ciúmes."

sábado, 11 de outubro de 2008

Confiança é o cimento do mundo

“Num momento de dificuldade,
depender de uma pessoa que não merece confiança
é como mastigar com um dente estragado,
andar com um pé aleijado.” (Pv 25.19)

Imagine que você estivesse com uma insuportável dor de dente e um amigo lhe dissesse que tinha um parente dentista que poderia atendê-lo naquele instante. É muito provável que você pediria o endereço daquele “abençoado” e sairia correndo para o consultório dele. Acrescente, agora, o fato de que você recebeu, um pouco antes de se dirigir ao carro, a informação de que aquele profissional tinha acabado de concluir o curso e você é um dos primeiros clientes. O que você faria ?

A confiança é função de duas qualidades: caráter e competência. Caráter inclui integridade (fazer o que prega), ter a motivação correta e intenções justas em relação às pessoas. Já competência envolve conhecimentos, habilidades, antecedentes e realizações. Ao receber a informação da existência de um dentista que poderia atendê-lo, sua reação foi de alegria por entender que seu amigo certamente teria a boa intenção de ajudá-lo. Porém, ao saber que o profissional está em início de carreira, a confiança foi perdida diante da suposta falta de competência de alguém que o teria como primeiro cliente.

Observe a crise atual no sistema financeiro mundial. Visando aumentar a liquidez em seus países, os bancos centrais das nações mais ricas baixaram as taxas de juros. Contrariando as teorias econômicas vigentes, os mercados não reagiram positivamente. Ao contrário, as bolsas de valores continuaram caindo, agravando ainda mais a crise. Motivo ? Falta de confiança entre as instituições financeiras e os investidores em toda parte do globo.

Por mais otimista que sejamos, a verdade é que não sabemos quando a atual crise financeira mundial irá terminar e quais serãos as consequências em nossas vidas. Mas, até lá, precisamos fazer a nossa parte e contar com Aquele lá de cima para nos tornarmos cada vez mais confiáveis, investindo no aperfeiçoamento do nosso caráter e desenvolvendo nossas competências.

sábado, 4 de outubro de 2008

Lições que só as crises oferecem

“Ninguém põe vinho novo em odres velhos;
do contrário, o vinho romperá os odres;
e tanto se perde o vinho como os odres.
Mas põe-se vinho novo em odres novos.

(Mc 2.22)

No início do século XX, os economistas acreditavam que o desemprego só surgiria se os trabalhadores não estivessem dispostos a aceitar salários mais baixos. Cumprida essa condição, não haveria possibilidade de crises, pois a “mão invisível” se encarregaria de manter a ordem econômica.

A crise de 29, nos EUA, mostrou que a forma clássica de enxergar a realidade econômica precisava ser revista. Mesmo os trabalhadores estando dispostos a aceitar salários menores para preservar seus empregos, mais de um quarto dos postos de trabalho existentes na economia americana sumiram da noite para o dia.

Liderando uma nova corrente de pensamento econômico, John Maynard Keynes publica o instigante Teoria geral do juro, do emprego e da moeda, mostrando uma maneira diferente de entender o que estava acontecendo: o nível de emprego não depende dos salários, mas de como os empresários percebem o contexto econômico e, por isso, nas depressões o governo deve intervir na economia estimulando o consumo e o investimento.

As crises muitas vezes são necessárias. Elas nos alertam para o fato de que o nosso pensamento ou maneira de fazer as coisas já não dão conta dos novos desafios e precisam ser substituídos. Por isso, precisamos vê-las como oportunidades valiosas para aprendermos a ser mais humildes, reconhecendo que a verdade última está com Aquele lá de cima e que aqui embaixo só nos resta continuar buscando nossos alvos com o espírito de eternos aprendizes.