"Vês a um homem perito na sua obra? Perante reis será posto; não entre a plebe." (Pv 22.29)
Muito cedo, senti a necessidade de não depender financeiramente dos meus pais. Talvez por desejar tanto essa condição, ainda jovem fui forçado a viver tal realidade. Meu pai deixou esposa e três filhos desamparados. Com isso, aos 15 anos tive que começar a trabalhar para ajudar minha mãe no sustento da família. Embora de uma forma muito dura, ali comecei a aprender a importância da independência econômica para a livre escolha do próprio destino.
Nos últimos anos, os programas sociais adotados pelo governo federal têm sido efetivos na redução do abismo social existente no país. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a meta para 2009 é de incorporar cerca de 1,3 milhão de novos beneficiários ao Bolsa Família, passando o programa a atender um total de 12,4 milhões de pessoas.
Mas talvez seja oportuno refletir sobre a nossa experiência de abolição da escravatura. Após os anos seguinte à Lei Áurea, sancionada em 1888, os ex-escravos tiveram que se virar para serem abosorvidos pela sociedade e sobreviverem. Dependendo da área em que atuavam - nas minas, na lavoura, nos ofícios urbanos -, foram integrados de forma diferente ao mercado. Alguns trabalhadores da cidade contaram com a grande vantagem de dominar um ofício. Outros que não tiveram a mesma sorte encontraram dificuldades em desfrutar uma emancipação verdadeira.
Por essa razão, torna-se cada vez mais premente a necessidade de se intensificar os esforços que complementam os programas sociais com iniciativas que assegurem portas de saída aos beneficiados. Ou seja, é preciso capacitá-los para caminhar com as próprias pernas, proporcionando formação escolar e profissional de qualidade, no contexto de uma economia saudável e competitiva que ofereça oportunidades.
domingo, 31 de maio de 2009
sábado, 23 de maio de 2009
Toda solução verdadeira começa pelo dever de casa bem feito
"... quem toma emprestado é escravo de quem empresta." (Pv 22.7)
Minha sogra está muito preocupada. Disseram a ela que o governo vai mexer na poupança. Tentei tranquilizá-la com a notícia de que a medida é uma proposta que ainda deverá passar pela análise e votação do Congresso. Além disso, mesmo se aprovadas, as novas regras de tributação - que afetam somente os rendimentos sobre a parcela acima de R$ 50 mil - só passariam a vigorar a partir de janeiro de 2010.
Ainda inconformada, ela indagou-me "por qual razão foram mexer no que está quieto há tanto tempo". Procurei convencê-la de que o governo precisa fazer alguma coisa em relação aos rendimentos da poupança. Com a queda da taxa de juros básica, a poupança está se tornando muito atraente para outros tipo de aplicações financeiras, como os fundos de investimentos. Ocorre que os fundos são os grandes compradores de títulos públicos - os papéis com que o governo se financia e rola sua dívida. Portanto, caso o governo não faça nada, certamente se achará numa situação financeira insustentável.
No esforço de toda essa explicação, fui supreendido por uma dura constatação. Além de provocar apreensão em muita gente, evocando os fantamas do confisco de um passado não muito distante, as mudanças anunciadas para a poupança não resolverão o problema de uma forma definitiva. Isso só acontecerá a partir do equilíbrio das contas públicas, interrompendo o ciclo vicioso do adiamento, pelo governo, da quitação de sua dívida interna. Como toda solução verdadeira, essa também só virá pela atitude corajosa de se começar por um dever de casa bem feito.
Minha sogra está muito preocupada. Disseram a ela que o governo vai mexer na poupança. Tentei tranquilizá-la com a notícia de que a medida é uma proposta que ainda deverá passar pela análise e votação do Congresso. Além disso, mesmo se aprovadas, as novas regras de tributação - que afetam somente os rendimentos sobre a parcela acima de R$ 50 mil - só passariam a vigorar a partir de janeiro de 2010.
Ainda inconformada, ela indagou-me "por qual razão foram mexer no que está quieto há tanto tempo". Procurei convencê-la de que o governo precisa fazer alguma coisa em relação aos rendimentos da poupança. Com a queda da taxa de juros básica, a poupança está se tornando muito atraente para outros tipo de aplicações financeiras, como os fundos de investimentos. Ocorre que os fundos são os grandes compradores de títulos públicos - os papéis com que o governo se financia e rola sua dívida. Portanto, caso o governo não faça nada, certamente se achará numa situação financeira insustentável.
No esforço de toda essa explicação, fui supreendido por uma dura constatação. Além de provocar apreensão em muita gente, evocando os fantamas do confisco de um passado não muito distante, as mudanças anunciadas para a poupança não resolverão o problema de uma forma definitiva. Isso só acontecerá a partir do equilíbrio das contas públicas, interrompendo o ciclo vicioso do adiamento, pelo governo, da quitação de sua dívida interna. Como toda solução verdadeira, essa também só virá pela atitude corajosa de se começar por um dever de casa bem feito.
domingo, 10 de maio de 2009
Espere o melhor, mas prepare-se para o pior
" ... porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos." (Mt 5.45)
Como todo nordestino, sinto uma enorme alegria toda vez que vejo a chuva cair. É um momento especial. Dá uma trégua no sofrimento do nosso povo. Renova as esperanças de uma gente que passa quase todo o ano enfrentando as agruras da luta diária para sobreviver numa terra onde sobra sequidão.
Nos últimos dias, porém, a chuva tem chegado com jeito de que não quer parar. E com ela a aflição que atinge mais de 800 mil pessoas, incluindo a morte de dezenas delas, em quase 300 municípios de nove Estados das regiões Norte e Nordeste. Dizem que a explicação da tragédia está no aumento da temperatura do mar. Águas mais aquecidas atraem uma massa de nuvens e ventos para a região. E por isso chove.
Diante do sofrimento de milhares de famílias, cometo o desatino de interpelar a Deus a razão de tanta desgraça. A exemplo do poeta, pondero com o Criador se "será que o Senhor se zangou e só por isso o sol se arretirou fazendo cair toda chuva que há". Felizmente, um novo dia ensolarado me ajuda a enxergar as coisas com mais clareza.
Por qual motivo tantas casas foram construídas em áreas de risco ? Onde está a regulamentação proibindo edificações em áreas inundáveis ? Por que não existe um sistema de alerta para previsão antecipada de eventos chuvosos e inundações ? E cadê o planejamento de uso e ocupação adequada do solo nesses muncipios ? Chego à conclusão de que, mesmo com tanta chuva, se nossas autoridades públicas tivessem feito a parte que lhe é devida, no lugar da lamentação, estaríamos todos nós olhando para o Alto para agradecer.
Publicado no jornal O Povo
Como todo nordestino, sinto uma enorme alegria toda vez que vejo a chuva cair. É um momento especial. Dá uma trégua no sofrimento do nosso povo. Renova as esperanças de uma gente que passa quase todo o ano enfrentando as agruras da luta diária para sobreviver numa terra onde sobra sequidão.
Nos últimos dias, porém, a chuva tem chegado com jeito de que não quer parar. E com ela a aflição que atinge mais de 800 mil pessoas, incluindo a morte de dezenas delas, em quase 300 municípios de nove Estados das regiões Norte e Nordeste. Dizem que a explicação da tragédia está no aumento da temperatura do mar. Águas mais aquecidas atraem uma massa de nuvens e ventos para a região. E por isso chove.
Diante do sofrimento de milhares de famílias, cometo o desatino de interpelar a Deus a razão de tanta desgraça. A exemplo do poeta, pondero com o Criador se "será que o Senhor se zangou e só por isso o sol se arretirou fazendo cair toda chuva que há". Felizmente, um novo dia ensolarado me ajuda a enxergar as coisas com mais clareza.
Por qual motivo tantas casas foram construídas em áreas de risco ? Onde está a regulamentação proibindo edificações em áreas inundáveis ? Por que não existe um sistema de alerta para previsão antecipada de eventos chuvosos e inundações ? E cadê o planejamento de uso e ocupação adequada do solo nesses muncipios ? Chego à conclusão de que, mesmo com tanta chuva, se nossas autoridades públicas tivessem feito a parte que lhe é devida, no lugar da lamentação, estaríamos todos nós olhando para o Alto para agradecer.
Publicado no jornal O Povo
sexta-feira, 1 de maio de 2009
A crise lá fora é econômica, já a nossa é de liderança
"Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também." (Jo 13.15)
Sempre que oportuno insisto com meus filhos algo que tem se tornado um verdadeiro mantra em nossa família. Digo para não contarem com qualquer tipo de herança material. Educação e um referencial de trabalho e integridade são os únicos bens que espero deixar para eles. O resto fica por conta de cada um, de acordo com as oportunidades que a vida oferecer.
A cada dia que passa, só aumenta minha convicção de que é de exemplo ético que os nossos filhos mais necessitam. Especialmente diante da deprimente situação atual, em que parlamentares confundem o público com o privado, chegando ao escândalo no uso de passagens aéreas para fazerem turismo no exterior com namoradas, esposa, filhos e amigos.
Faz tempo que escuto o dito de que o Brasil é o país do futuro. A despeito de nossas riquezas naturais e de um povo tão benevolente, estou chegando à conclusão de que talvez nem nossos netos terão a oportunidade de viver a realidade desse vaticínio. Pelo menos, enquanto continuar faltando à liderança da nossa nação parâmetros minimamente civilizados no uso dos recursos públicos.
Sempre que oportuno insisto com meus filhos algo que tem se tornado um verdadeiro mantra em nossa família. Digo para não contarem com qualquer tipo de herança material. Educação e um referencial de trabalho e integridade são os únicos bens que espero deixar para eles. O resto fica por conta de cada um, de acordo com as oportunidades que a vida oferecer.
A cada dia que passa, só aumenta minha convicção de que é de exemplo ético que os nossos filhos mais necessitam. Especialmente diante da deprimente situação atual, em que parlamentares confundem o público com o privado, chegando ao escândalo no uso de passagens aéreas para fazerem turismo no exterior com namoradas, esposa, filhos e amigos.
Faz tempo que escuto o dito de que o Brasil é o país do futuro. A despeito de nossas riquezas naturais e de um povo tão benevolente, estou chegando à conclusão de que talvez nem nossos netos terão a oportunidade de viver a realidade desse vaticínio. Pelo menos, enquanto continuar faltando à liderança da nossa nação parâmetros minimamente civilizados no uso dos recursos públicos.
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