quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Portas abertas em 2010
Talvez neste ano que termina muitas portas tenham permanecido fechadas para você. Aquele relacionamento que não se firmou. A aprovação no vestibular que não aconteceu. A vaga no emprego que ainda não surgiu. A saúde que não se recuperou completamente. Ou, quem sabe, o lado financeiro que teima em não se equilibrar.
Meu desejo é que as portas se abram para todos nós em 2010. Que os obstáculos dêem lugar para aquelas oportunidades com as quais temos tanto sonhado. E, mais importante, torço para que essas portas dêem acesso a pessoas, realizações e conquistas que, de fato, nos tragam felicidade e crescimento.
Mas não esqueçamos de que quase sempre não temos o poder de abrir as portas. A nossa parte é estarmos bem preparados para quando elas se abrirem. Tendo o discernimento de não entrar naquelas que possam prejudicar outras pessoas. A serenidade para respeitar as que permanecerem fechadas. E a fé para saber esperar as portas que nos estão reservadas.
Publicado no jornal O Povo
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Cuidado com as conclusões apressadas
Minhas filhas são muito vaidosas. Uma delas desde pequena reclama de um diastema nos incisivos superiores. Apesar de ser apenas uma pequena separação entre dois dentes, ela nunca se conformou com aquilo, achando que só lhe trazia prejuízos. Até que uma revisão odontológica mudou completamente sua compreensão desse fato.
O dentista constatou que, apesar de ter passado dos 20 anos, Amanda ainda tinha um dente de leite obstruindo o nascimento de um canino permanente. E o mais curioso foi o diagnóstico do especialista de que a erupção do novo dente só iria acontecer normalmente graças à existência do diastema nos incisivos. Isso mesmo, aquela característica que minha filha via como um "defeito" era agora a solução de um grande problema.
É frequente nos apressarmos nas nossas conclusões para logo em seguida descobrirmos que estávamos completamente enganados. A realidade é complexa e nossa percepção é limitada. Temos uma memória quase sempre muito curta. Lidamos com muitos pontos cegos quando tentamos enxergar o presente. E a visão do futuro existe apenas como fruto da nossa imaginação. Por isso, assim como canja de galinha, humildade e prudência não fazem mal a ninguém.
Publicado no jornal O Povo
domingo, 13 de dezembro de 2009
Aceite sua dose de sacrifício
Relutei bastante em tratar de um tema considerado completamente fora de moda. Mas é preciso reconhecer que ninguém quer saber de sacrifícios. Vivemos na busca incessante de tudo que é prazeroso, rejeitando ou fugindo de qualquer coisa que nos sinalize dor e sofrimento. Resultado de um traço da natureza humana potencializado pelos valores do nosso tempo.
Curiosamente, entretanto, nunca o sacrifício foi tão necessário. O mundo está cada vez mais competitivo. Sobreviver hoje em dia é tarefa que nos impõe um esforço constante. Demanda uma forte preparação com excelência em tudo que se fizer. Além de exigir uma mente sempre aberta a aprender e se renovar.
domingo, 6 de dezembro de 2009
A arte de educar filhos
Desde pequena minha esposa foi uma excelente aluna. Daquelas que os mais incomodados rotulam de CDF. Contam que numa única vez em que tirou uma nota abaixo de 10 caiu em prantos. Minha sogra ainda hoje, sempre que tem oportunidade, faz questão de mostrar os boletins considerados verdadeiros troféus conquistados pela filha que sempre lhe foi motivo de bastante orgulho.
Agora, como mãe, Adriana está enfrentando a dura realidade de aceitar e continuar amando filhas que ainda não apresentaram um desempenho escolar tão elevado como sempre foi sua marca. Como normalmente passam de ano sem ficar em recuperação, é preciso fazer justiça de que as meninas podem ser consideradas alunas acima da média. Mas, de fato, para elas uma nota abaixo de 10 está longe de representar o fim do mundo.
Conversando sobre o assunto, chegamos à conclusão de que só nos resta perseverar em fazermos a nossa parte, oferecendo todo o apoio necessário e dispensando o cuidado no acompanhamento da vida de cada uma, incluindo a formação escolar. Afinal, mesmo desejando o melhor para nossos filhos, precisamos ter consciência de que o futuro deles permanece em aberto. Amá-los de verdade é liberá-los para que sejam quem de fato eles devem ser e não o que queremos que eles sejam. Nossa única certeza, portanto, é de que, se cumprirmos de maneira honesta e responsável a tarefa de pais, nós mesmos e não eles, nos tornaremos pessoas bem mais tolerantes e pacientes.
sábado, 21 de novembro de 2009
Uma combinação perfeita
Graças a Deus, sempre gozei de uma boa saúde. A exceção fica por conta de uma amidalite recorrente que de vez em quando insiste em me atacar. O tratamento é simples. Aguardo um ou dois dias para o organismo reagir. Caso a inflamação evolua, começo uma dosagem de antibiótico. Até a medicação surtir efeito, tenho apenas que suportar o desconforto de febre, cefaléias e mialgias durante esse período.
Foi aí que descobri o paracetamol. Trata-se de fármaco com poucas contra-indicações - exceção apenas nos casos de alta dosagem em pessoas com problemas hepáticos - que possui propriedades analgésicas e atua como anti-térmico. Faz parte da composição de uma série de medicamentos usados contra a constipação comum e sintomas de gripe. Era exatamente do que eu precisa para tornar o tratamento com antibióticos bem mais suportável.
Fiquei pensando que algo semelhante poderia se aplicar também como ingredientes para nossa vida. Os antibióticos seriam a disposição, garra e coragem necessários para "matarmos um leão por dia", na luta pela sobrevivência. O paracetamol é aquele toque de leveza que precisamos ter diante de uma realidade muitas vezes dura e massacrante. Não levar tudo tão a sério, encontrar tempo para o lazer e valorizar aquilo que contribua para uma melhor qualidade de vida. Pense nessa combinação. Caso ache perfeita, faço apenas uma advertência: não use remédios sem prescrição médica.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
O valor da experiência
Ao longo de mais de 30 anos de trabalho, tive o privilégio de conhecer muita gente interessante. Uma dessas pessoas que já mais esquecerei foi o colega Jurenville. Simples, leal e com um bom humor daqueles que, como diz o ditado, "perdia o amigo mas não dispensava a piada". Trabalhava em atendimento e, certo dia, recebeu uma ligação de um usuário raivoso dizendo que ele deveria resolver logo o problema, pois estava "chovendo de ligações". No que Velho Ju prontamente respondeu: "é só comprar um guarda-chuva".
Recentemente, sonhei que participava de um treinamento e fui surpreendido com a presença do Jurenville no evento. Mesmo achando aquilo estranho, pois sabia que o Velho Jú já não estava mais entre nós, tratei de aproveitar aquele momento e matar um pouco da saudade do tão estimado colega. A empolgação foi tamanha que convenci o Velho Ju de que fosse comigo rever um outro grande conhecido nosso. No meio do caminho, ao tentar ligar para o colega avisando que estávamos a caminho, inesperadamente, o Velho Ju desaparece.
Além de rememorar uma pessoa tão querida como o Jurenville, fiquei pensando o que mais esse sonho poderia evocar de bom. Talvez nos ensinar o valor das experiências em nossas vidas. Afinal, elas são únicas. "Não se toma banho duas vezes no mesmo rio", já dizia o filósofo. São também pessoais, pois a mesma experiência na vida de uma outra pessoa se torna absolutamente distinta. E inalienáveis, já que ninguém tem o poder de nos tirar o legado das experiências que se constituem a essência da nossa própria vida. Mas cabe um alerta: toda riqueza existente nas experiências de fato são transformadoras quando vividas de maneira intensa e profunda.
sábado, 7 de novembro de 2009
A força do propósito
Há alguns anos, minha sogra, viúva, decidiu morar conosco. Ela entendeu que deveria passar os preciosos anos da melhor idade ao lado da filha e das netas. Temos nela uma pessoa que nos ajuda muito, especialmente naquelas tarefas simples mas essenciais para o dia-a-dia de uma casa. Contudo, há algo que ela já deixou bem claro: não tolera animais dentro de casa. Certa vez, ao cogitarmos um bichinho de estimação para nossas filhas, dona Helena nos ameaçou: "ou ele ou eu."
É o oposto de dona Jô. Conheci-a recentemente, ao gritar do meio da rua pedindo-me carona. Estava aflita para encontrar ainda aberta uma agência bancária. Precisava de dinheiro para pagamento de dívidas contraídas com a compra de alimentação para seus cinquenta gatinhos. Não pense que você leu errado. De fato, são meia centena de felinos e, ainda de quebra, sete cachorros que vivem juntos com dona Jô. Diferentemente de minha sogra, quando foi encostada na parede pelo marido, dizendo "ou eu ou eles", dona Jô respondeu sem hesitar: "fico com meus bichinhos".
Com ou sem gatos, todos nós precisamos de um propósito para viver. Sem objetivos não faremos boas escolhas, pois todos os caminhos nos parecerão apropriados. Quando as circunstâncias nos sugerem que o melhor é desistir, são nossos alvos que nos dão motivo para continuar seguindo em frente. E, além disso, devo confessar, ainda não descobri nada mais gratificante do que uma meta conquistada.
domingo, 1 de novembro de 2009
Não leve tudo tão a sério
Recentemente, uma de minhas filhas tirou carteira de motorista e começou a dirigir. Ao tentar estacionar o carro, encostou numa coluna da garagem e arranhou o veículo. Algo bastante trivial de acontecer com qualquer um que dirige, ainda mais para quem está apenas começando.
Não com Amanda. Parecia ser o fim do mundo. Fez uma tempestade num copo d'agua. Ficou um bom tempo chorando, a lamentar pelos arranhões e amassadura do carro. Diante do medo de bater novamente, chegou a dizer que nunca mais voltaria dirigir, encerrando ali sua breve experiência de motorista.
Fiquei pensando que somos todos assim. Temos o péssimo hábito de dar uma dimensão bem maior ao tamanho real dos nossos problemas. Permitimos que uma difilculdade, muitas vezes pontual e localizada, contamine todas as áreas de nossa existência. Que tal simplificarmos mais a nossa vida não levando tão a sério aquilo que de fato não é ? No caso de Amanda, felizmente se convenceu de que aquilo era tolice, tratou de providenciar o conserto do carro e já está dirigindo novamente.
domingo, 25 de outubro de 2009
Repartindo com os outros o melhor de você
Um professor gentilmente pediu-me para ajudá-lo em atividades de monitoria. Senti-me lisonjeado, mas agradeci o convite. Justifiquei a recusa diante de uma agenda já repleta de afazeres relacionados com trabalho, família e a própria faculdade. Alguns dias depois, foram divulgadas as notas da primeira prova. Surpreendentemente, fui instado por vários colegas a compartihar com eles aquilo que eu já aprendera e que explicava meu bom desempenho na disciplina.
Desta vez, não pude recusar o novo convite. Fiquei imaginando que se não os ajudasse estaria roubando a oportunidade de que outras pessoas pudessem alcançar seus objetivos. Tinha que reconhecer que algo que estava sobrando em mim era exatamente o que faltava para aqueles outros colegas. Revendo a agenda com mais cuidado, chegamos a um horário conveniente para todos.
Num mundo marcado pelo individualismo, é comum não atentarmos para as necessidades dos outros. Racionalizamos que não damos conta sequer de nossas preocupações e dificuldades. Por isso, na próxima oportunidade que tiver, faça diferente. Disponha-se a repartir com os outros aqueles dons, talentos e competências que são singulares em você. E prepare-se para se sentir gratificado, confirmando, na prática, a verdade de que “é mais feliz quem dá do que quem recebe.”
Publicado no jornal O Povo
domingo, 18 de outubro de 2009
Despertando o melhor das pessoas
Um dia desses, compartlhei com meu filho mais velho uma grande alegria. A irmã dele estava gostando bastante da faculdade que começara a cursar. Cheguei a conjecturar com ele que talvez ali fosse o início de uma carreira brilhante da irmã. Com um ar de ceticismo, ele comentou: "o senhor é pai e tem que esperar o melhor da filha".
Certamente que meu primogênito Filipe não tem consciência da importância que a expectativa dele tem para o futuro da irmã. É claro que nada impede que ela venha a ter uma trajetória exitosa, a despeito da incredulidade do irmão. Mas não há dúvida de que uma visão mais positiva de toda a família aumentará as chances de que a minha querida Sofia realize seus sonhos profissionais.
Por isso, tenha cuidado com os julgamentos que sabotam o melhor das pessoas. Evite o perigo de enxergá-las através de uma visão congelada que não condiz com o presente delas. E não caia na tentação de roubar-lhes o futuro, negando o potencial de superação que todo ser humano possui. Faça diferente, apostando sempre na dignidade e grandeza de cada indivíduo que cruzar o seu caminho.
Publicado no jornal O Povo
sábado, 3 de outubro de 2009
Rio - 2016: Sim, nós também podemos !
Depois de uma emocionante disputa acompanhada por mais de um bilhão de pessoas no mundo, o Rio de Janeiro foi anunciado como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, os primeiros na história a serem organizados em um país sul-americano. A cidade brasileira venceu Chicago, Tóquio e, por fim, Madri, na eleição do COI (Comitê Olímpico Internacional) realizada em Copenhague, na Dinamarca.
Trata-se de um feito extraordinário. Ainda mais pelo fato de que o Brasil, ao lado de México, Alemanha e Estados Unidos, será o quarto país a receber os Jogos Olímpicos (2016) e a Copa do Mundo (2014) num intervalo de dois anos. Embora sejam muitos os desafios para preparação da infraestrutura necessária, o momento é de alegria e deve ser comemorado por todos os brasileiros.
Através do COI, o mundo nos mandou o recado de que não precisamos continuar condenados a país somente do futuro. Sim, nós também podemos ser uma nação do presente. E, ainda, aprendermos as lições dessa conquista. Sonhar grande. Priorizar o interesse coletivo. Reconhecer o valor do que já possuímos. Aproveitar bem as oportunidades. Colocar excelência em tudo que se fizer. Jamais abrir mão do engajamento da liderança. Saber usar a força da emoção. Acreditar sempre. Sempre. E não desistir nunca.
Publicado no Jornal O Povo
domingo, 20 de setembro de 2009
Lidando com as incertezas
No dia 15 de setembro de 2008, o então quarto maior banco de investimento americano afundou. As autoridades americanas deixaram o Lehman Brothers sucumbir e, com isso, empurraram o mercado financeiro mundial ladeira abaixo, numa das mais profundas crises econômicas dos últimos 80 anos. Apesar dos estragos, principalmente nos países mais ricos, o mundo não chegou ao fim como vaticinavam os pessismistas de plantão.
Mas, para mim, aquela sexta-feira parecia que seria a última. Acordei apavorado no meio da madrugada. Uma dor lancinante só me deixava imaginar que o pior aconteceria. Foi quando pensei que aquilo poderia não ser tão grave e decidi pedir ajuda à minha esposa. Alguns minutos depois, devidamente medicado, todo aquele susto já tinha passado.
Medo diante da incerteza. Talvez você já tenhado passado por isso. Da próxima vez, tente fazer algo diferente. Questione. É possível que aquilo que você está vendo como um infortúnio não seja tão ruim assim. Compartilhe. Quem sabe não já exista alguém ao seu lado pronto para lhe ajudar. E acredite. Confiando que tudo vai dar certo no fim. Afinal, se ainda não deu certo, é porque ainda não é o fim.
Publicado no Jornal O Povo
domingo, 13 de setembro de 2009
Semeadores de legado
Todo pai deseja que seus filhos sejam vitoriosos. Projetamos neles a realização das conquistas que ficaram apenas em nossos sonhos. Queremos vê-los indo além do que fomos capazes. É por isso que não medimos esforços para oferecer a eles o que muitas vezes não tivemos. Mas, que tipo de vitória realmente importa para nossos filhos ?
Para o tricampeão mundial Nelson Piquet, o importante era ver o filho Nelson Ângelo Piquet, o Nelsinho, sucedê-lo como um vencedor na Fórmula 1. O pai queria que o filho brilhasse de qualquer forma. Tamanha pressão pode ter contribuído na decisão de Nelsinho de bater seu carro contra um muro, fraudando uma vitória de seu companheiro de equipe e, muito provavelmente, interropendo o futuro de sua carreira.
Para o pai de Denis, um jovem colega de trabalho, a alegria contagiante que denunciava o sentimento de vitória foi ouvir que o filho é uma pessoa leal, honesta e verdadeira. Saber que valeu a pena, como um semeador de legado, a perseverança em tentar ser exemplo e a paciência em ensinar aos filhos aquilo que realmente importa.
Publicado no jornal O Povo
Republicado no jornal O Povo
domingo, 6 de setembro de 2009
Agradecendo ... e aprendendo com a seleção de Dunga
Propósito. Competência. Motivação. Disciplina. Foco. Humildade. Unidade. Precisão. Equilíbrio. São esses alguns dos ingredientes que podem explicar o êxito da seleção brasileira de futebol em garantir, com três rodadas de antecedência, uma vaga para a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, mantendo o feito de único País a participar de todas as copas até hoje realizadas.
Talvez os mais saudosistas não estejam tão contentes com esse resultado inegavelmente expressivo. Principalmente aqueles que assistiram ao apogeu da era Pelé, na canarinho de 70. Ou mesmo os que ficaram encantados com o quadrado de ouro formado por Zico, Falcão, Sócrates e Cerezzo, na seleção de 1982. Mas o mundo mudou e o futebol também.
Por isso, não dá para tirar o mérito do atual escrete brasileiro. Ao contrário, temos muito a agradecer e até a aprender com essa equipe. Afinal, dizem os estudiosos que felicidade humana é determinada por fatores genéticos (50%), circunstâncias (10%) e atividade intencional (40%). Na medida em que não podemos mudar nossa herança genética e alterar as circunstâncias é muito difícil, resta-nos, a exemplo da selação de Dunga, fazer o melhor possível utilizando nossas forças pessoais em buscas das vitórias.
Publicado no Jornal O Povo
sábado, 29 de agosto de 2009
Os atos secretos que valem a pena
Atos secretos. O senador José Sarney sabe bem do que se trata. Afinal, são dezenas de nomeações de parentes e apadrinhados políticos para ocupação de cargos comissionados no Senado Federal. Atos secretos. O cantor Belchior estranhamente também anda sumido. Não não sabe para onde ele foi nem por qual motivo decidiu se esconder.
Atos secretos fazem parte de nosso repertório de comportamentos humanos. Escolhemos esse caminho quando insistimos em fazer algo que temos a convicção de que não contaremos com a aprovação da maioria das pessoas. Ou, como uma opção mais fácil, diante de situações que nos tornam impotentes e nos fazem enxergar a fuga como única saída.
Felizmente existem atos secretos que valem a pena praticá-los. São aqueles que, acima de tudo, buscam o bem de outras pessoas. E devem ser feito de maneira discreta, sem muito alarde. Ao contrário daqueles que odeiam a luz e fogem dela, estes são mais frutíferos exatamente quando realizados no anonimato.
domingo, 23 de agosto de 2009
O segredo de uma nação vigorosa
A cantora Céline Dion, 41, está grávida de seu segundo filho. Pessoas ligadas à cantora canadense dizem que ela e o marido, René Angélil, 67, estão muito felizes. Eles são pais de René-Charles, que nasceu em janeiro de 2001. A cantora, que vem de uma família grande de 13 irmãos, havia declarado recentemente que gostaria de ter mais filhos.
Para os japoneses, entretanto, os casamentos estão em baixa. O Japão pode perder 20% de sua população até 2050 se seus habitantes continuarem decididos a não ter mais filhos, um problema que se deve tanto às dificuldades materiais para criá-los como à atitude dos homens e mulheres daquele País frente ao casamento.
Numa época marcada pelo individualismo e a busca incessante do prazer, casamento e filhos são opções que, a cada dia que passa, as pessoas se sentem menos motivadas a escolher. Talvez a constatação da sombria realidade da terra do sol nascente nos faça acordar para o fato de que a família continua sendo o alicerce de uma nação vigorosa.
domingo, 16 de agosto de 2009
Uma boa notícia para os evangélicos
Todo mundo gosta de uma boa notícia. Os evangélicos mais ainda. Afinal, são considerados evangélicos exatamente porque um dia ouviram uma "boa notícia" (do grego euaggélion) que, de algum modo, mudou suas vidas. Nos últimos dias, entretanto, está cada vez mais difícil uma boa notícia. Felizmente, tenho uma que, espero, possa também interessar aos evangélicos.
Não se trata, como talvez queiram alguns, do arquivamento da denúncia apresentada pelo Ministério Público de São Paulo e recebida pelo juiz Gláucio Roberto Brittes, da 9a. Vara Criminal de São Paulo, acusando a cúpula da Igreja Universal pelos crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro por terem usado o dinheiro do dízimo dos fiéis para seu enriquecimento pessoal.
A boa notícia vem de uma filha de retirantes nordestinos pobres, ex-doméstica, ex-seringueira, semianalfabeta até os 16 anos, com uma trajetória construída na participação em movimentos sociais em defesa da causa ambiental. A senadora Marina Silva deverá participar da disputa presidencial em 2010, com uma fé sincera que lhe faz acreditar que "a utopia deve continuar".
sábado, 11 de julho de 2009
O duro exercício da perda
Meu vizinho Júnior está muito mal. Sua única filha foi concluir os estudos fora do país. Ele confessou-me que não estava preparado para isso. Sempre a teve por perto e não imaginava que esse momento chegaria. Para completar a tristeza, a última notícia que recebeu da filha foi através do namorado dela. Agora ele não tem mais dúvida: a filha não lhe pertence mais.
Nos últimos dias, várias pessoas tem me perguntado qual a razão que leva alguém com quase 80 anos, muito rico e já tendo ocupado os principais cargos desta nação, incluindo a própria Presidência da República, insiste em não deixar a direção do Senado Federal, mesmo já tão desgastado diante de sucessivas acusações de corrupção, desmandos administrativos e uso indevido do erário público.
Numa pesquisa na Princenton University, estudantes foram separados randomicamente em dois grupos. Ao primeiro foi mostrado um determinado tipo de caneca e perguntado quanto estariam dispostos a pagar. Em média, eles responderam 3,50 dólares. A cada membro do segundo grupo foi dado o mesmo tipo de caneca e logo depois perguntado quanto precisaria ser pago para que a devolvessem. As respostas foram notáveis: em média, 7 dólares !
É inegável que as pessoas destam perder quase tudo. Na verdade, muitos estudos, como o acima citado, descobriram que uma perda desagrada cerca de duas vezes mais do que um ganho igual pode agradar. É por isso que a maioria de nós faz tudo que pode para evitar o risco da perda. E quando isso acontece não nos conformamos. Meu amigo Júnior e o senador José Sarney que o digam.
Publicado no jornal O Povo
terça-feira, 30 de junho de 2009
A arte de fazer o bem
Um dia desses, quando eu e minha esposa estávamos estacionando o carro, uma jovem se ofereceu para ficar olhando o veículo. Reparamos que ela segurava uma garrafa pet de dois litros. Embora não tivéssemos certeza, os olhos bastante avermelhados daquela moça denunciavam o tipo de líquido que ali ainda restava.
Ao retornarmos, a jovem se aproximou numa atitude que nos instava a oferecer-lhe algum pagamento pelo que acabara de fazer. Preocupada em fazer algo que só piorasse o estado daquela moça, minha esposa abriu a bolsa e, no lugar de dinheiro, entregou-lhe um barra de cereais. Fomos retribuídos com um olhar de profundo desagrado.
O site TMZ.com, que foi o primeiro a anunciar a morte de Michael Jackson, disse que Conrad Murray, médico particular do cantor, injetou Demerol no astro pouco antes de sua morte. De acordo com o advogado profissional Edward Chernoff, essas informações são "totalmente falsas". "Não houve Demerol, nem OxyContin", afirmou o advogado ao jornal Los Angeles Times.
Ajudar alguém é uma arte. Nem sempre as pessoas desejam aquilo que verdadeiramente é o melhor para si. Nos casos de adictos, isso fica mais evidente. Na maioria das vezes, entretanto, essa percepção exige uma sutileza. Por isso, não basta nossa disposição de ajudar. É preciso enxergar além das necessidades aparentes. E coragem para, se preciso, fazer o bem mesmo correndo o risco de desagradar.
Publicado no jornal O Povo
quinta-feira, 11 de junho de 2009
O mistério revelado pelo AF447
O porta-voz do Estado-Maior das Forças Armadas da França, capitão Christophe Prazuck, afirmou, em Paris, que as chances de que as caixas-pretas do avião AF 447 sejam localizadas no Oceano Atlântico "são muito pequenas". A aeronave Airbus A330-200, da Air France, desapareceu no Oceano Atlântico, na madrugada da primeira segunda-feira de junho, com 216 passageiros e 12 tripulantes a bordo durante o trajeto Rio de Janeiro-Paris.
Sem a caixa-preta, continuarão apenas as especulações em torno das prováveis causas dessa tragédia. Na falta de algo concreto, há quatros linhas de investigação. A possibilidade de que o avião tenha sido atingido por uma tempestade ou chuva de granizo. Uma eventual falha no sistema de controle de voo automático da aeronave, conhecido como fly-by-wire. Um provável erro do piloto ao entrar num trecho de tempestade, do qual seria incapaz de sair. Ou, ainda, falha no serviço de comunicação, deixando o piloto mal informado sobre as condições do tempo.
Entre um número sufocante de interrogações produzidas a partir desse que foi o pior desastre da Air France - e o 21° maior da história da aviação - e a desanimadora quantidade de boas informações, talvez a posição mais sensata seja a do responsável pelas investigações de acidentes aéreos na França, Paul-Louis Arslanian, que disse: "Vai demorar tempo, talvez muito tempo, para que saibamos o que efetivamente aconteceu".
É curiosa a ambivalência do mistério perante o ser humano. O mistério traz uma saudável e necessária motivação para a busca do conhecimento que nos faz avançar. Encontrar o que determinou o acidente do AF447 ajudará a evitar novas tragédias aéreas desse tipo. Mas o mistério também nos convida a uma atitude de humildade. É possível que tenhamos que conviver por muito tempo com a falta de explicação para esse acontecimento dramático que resultou na morte de 228 pessoas e evocou a precariedade da vida humana.
domingo, 31 de maio de 2009
A dimensão econômica e a verdadeira liberdade
Muito cedo, senti a necessidade de não depender financeiramente dos meus pais. Talvez por desejar tanto essa condição, ainda jovem fui forçado a viver tal realidade. Meu pai deixou esposa e três filhos desamparados. Com isso, aos 15 anos tive que começar a trabalhar para ajudar minha mãe no sustento da família. Embora de uma forma muito dura, ali comecei a aprender a importância da independência econômica para a livre escolha do próprio destino.
Nos últimos anos, os programas sociais adotados pelo governo federal têm sido efetivos na redução do abismo social existente no país. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a meta para 2009 é de incorporar cerca de 1,3 milhão de novos beneficiários ao Bolsa Família, passando o programa a atender um total de 12,4 milhões de pessoas.
Mas talvez seja oportuno refletir sobre a nossa experiência de abolição da escravatura. Após os anos seguinte à Lei Áurea, sancionada em 1888, os ex-escravos tiveram que se virar para serem abosorvidos pela sociedade e sobreviverem. Dependendo da área em que atuavam - nas minas, na lavoura, nos ofícios urbanos -, foram integrados de forma diferente ao mercado. Alguns trabalhadores da cidade contaram com a grande vantagem de dominar um ofício. Outros que não tiveram a mesma sorte encontraram dificuldades em desfrutar uma emancipação verdadeira.
Por essa razão, torna-se cada vez mais premente a necessidade de se intensificar os esforços que complementam os programas sociais com iniciativas que assegurem portas de saída aos beneficiados. Ou seja, é preciso capacitá-los para caminhar com as próprias pernas, proporcionando formação escolar e profissional de qualidade, no contexto de uma economia saudável e competitiva que ofereça oportunidades.
sábado, 23 de maio de 2009
Toda solução verdadeira começa pelo dever de casa bem feito
Minha sogra está muito preocupada. Disseram a ela que o governo vai mexer na poupança. Tentei tranquilizá-la com a notícia de que a medida é uma proposta que ainda deverá passar pela análise e votação do Congresso. Além disso, mesmo se aprovadas, as novas regras de tributação - que afetam somente os rendimentos sobre a parcela acima de R$ 50 mil - só passariam a vigorar a partir de janeiro de 2010.
Ainda inconformada, ela indagou-me "por qual razão foram mexer no que está quieto há tanto tempo". Procurei convencê-la de que o governo precisa fazer alguma coisa em relação aos rendimentos da poupança. Com a queda da taxa de juros básica, a poupança está se tornando muito atraente para outros tipo de aplicações financeiras, como os fundos de investimentos. Ocorre que os fundos são os grandes compradores de títulos públicos - os papéis com que o governo se financia e rola sua dívida. Portanto, caso o governo não faça nada, certamente se achará numa situação financeira insustentável.
No esforço de toda essa explicação, fui supreendido por uma dura constatação. Além de provocar apreensão em muita gente, evocando os fantamas do confisco de um passado não muito distante, as mudanças anunciadas para a poupança não resolverão o problema de uma forma definitiva. Isso só acontecerá a partir do equilíbrio das contas públicas, interrompendo o ciclo vicioso do adiamento, pelo governo, da quitação de sua dívida interna. Como toda solução verdadeira, essa também só virá pela atitude corajosa de se começar por um dever de casa bem feito.
domingo, 10 de maio de 2009
Espere o melhor, mas prepare-se para o pior
Como todo nordestino, sinto uma enorme alegria toda vez que vejo a chuva cair. É um momento especial. Dá uma trégua no sofrimento do nosso povo. Renova as esperanças de uma gente que passa quase todo o ano enfrentando as agruras da luta diária para sobreviver numa terra onde sobra sequidão.
Nos últimos dias, porém, a chuva tem chegado com jeito de que não quer parar. E com ela a aflição que atinge mais de 800 mil pessoas, incluindo a morte de dezenas delas, em quase 300 municípios de nove Estados das regiões Norte e Nordeste. Dizem que a explicação da tragédia está no aumento da temperatura do mar. Águas mais aquecidas atraem uma massa de nuvens e ventos para a região. E por isso chove.
Diante do sofrimento de milhares de famílias, cometo o desatino de interpelar a Deus a razão de tanta desgraça. A exemplo do poeta, pondero com o Criador se "será que o Senhor se zangou e só por isso o sol se arretirou fazendo cair toda chuva que há". Felizmente, um novo dia ensolarado me ajuda a enxergar as coisas com mais clareza.
Por qual motivo tantas casas foram construídas em áreas de risco ? Onde está a regulamentação proibindo edificações em áreas inundáveis ? Por que não existe um sistema de alerta para previsão antecipada de eventos chuvosos e inundações ? E cadê o planejamento de uso e ocupação adequada do solo nesses muncipios ? Chego à conclusão de que, mesmo com tanta chuva, se nossas autoridades públicas tivessem feito a parte que lhe é devida, no lugar da lamentação, estaríamos todos nós olhando para o Alto para agradecer.
Publicado no jornal O Povo
sexta-feira, 1 de maio de 2009
A crise lá fora é econômica, já a nossa é de liderança
Sempre que oportuno insisto com meus filhos algo que tem se tornado um verdadeiro mantra em nossa família. Digo para não contarem com qualquer tipo de herança material. Educação e um referencial de trabalho e integridade são os únicos bens que espero deixar para eles. O resto fica por conta de cada um, de acordo com as oportunidades que a vida oferecer.
A cada dia que passa, só aumenta minha convicção de que é de exemplo ético que os nossos filhos mais necessitam. Especialmente diante da deprimente situação atual, em que parlamentares confundem o público com o privado, chegando ao escândalo no uso de passagens aéreas para fazerem turismo no exterior com namoradas, esposa, filhos e amigos.
Faz tempo que escuto o dito de que o Brasil é o país do futuro. A despeito de nossas riquezas naturais e de um povo tão benevolente, estou chegando à conclusão de que talvez nem nossos netos terão a oportunidade de viver a realidade desse vaticínio. Pelo menos, enquanto continuar faltando à liderança da nossa nação parâmetros minimamente civilizados no uso dos recursos públicos.
terça-feira, 21 de abril de 2009
O custo elevado da democracia
Sou de uma geração em que não havia muita abertura para questionamento daquilo que os pais nos diziam para fazer. O modelo era bem básico, do tipo "manda quem pode, obedece quem tem juízo". Com isso, se economizava tempo e energia em discussões intermináveis, deixando a vida mais simples. Por outro lado, crescíamos sem o exerício valioso da reflexão pelo contraditório, tornando a maturidade pessoal um processo bem demorado.
Como todo pai, tenho hoje a responsabilidade pela educação de filhos que não aceitam qualquer tipo de imposição. Afinal, muito cedo eles já dispõem de um mundo gigantesco de informações. Além disso, vivemos num contexto cultural marcado pela indiferença às verdades absolutas. Portanto, só nos cabe encarar o desafio e, com paciência e abertura ao diálogo, fazer o possível para contribuir com a formação deles. E, nesse processo, aprender muito também.
Quando penso nisso e observo que o Congresso Nacional (Câmara e Senado) gasta o equivalente a R$ 5,6 bilhões por ano, constato o custo elevado da democracia. Tais cifras correspondem ao dobro dos investimentos com o desenvolvimento da educação profissional e tecnológica feitos no País. Ou a cinco vezes o montante dos recursos alocados para o ensino da pós-graduação e da pesquisa científica. Tal como a educação dos filhos nos dias atuais, o jeito é ter paciência e acreditar que a democracia ainda é o melhor caminho.
domingo, 12 de abril de 2009
Descobrindo na crise o valor de uma vida simples
Uma coisa tenha aprendido com Dona Helena: controlar rigorosamente o orçamento. Ela jamais economiza em itens essenciais como saúde, educação e moradia. Porém, faz questão de limitar suas despesas naquilo que é supérfluo. Em outras palavras, sua atenção está mais voltada para a qualidade dos seus gastos do que com a quantidade do dinheiro que recebe. Mas isso só é possível porque Dona Helena há muito tempo aprendeu a ter uma vida simples.
O artigo 159 da Constituição Federal estabelece que a União deve entregar cerca de 23,5 % do total dos impostos sobre renda e sobre produtos industrializados para os municípios. Com o atual cenário de redução da atividade econômica, e a consequente diminuição da arrecadação, o valor dessas transferências tende a cair. Daí a grita geral de prefeitos junto ao governo federal visando assegurar um piso para o valor dos repasses.
Em tempos de crise, uma das maiores lições está em podermos redescobrir o valor que existe num estilo simples de viver. A experiência da escassez nos impõe a necessidade de priorizar o que é mais importante e desafia nossa criatividade em fazer mais com menos recursos. Pensando bem, nossos governantes municipais poderiam aproveitar o momento para fazer diferente. Ao invés da preocupação excessiva com as receitas, o cuidado maior deveria recair sobre o lado dos gastos. Dona Helena que o diga.
domingo, 5 de abril de 2009
Reconhecendo a importância dos ciclos
Por volta dos 12 anos, experimentei uma época de grande prosperidade. Os negócios conduzidos por meus pais estavam em plena ascensão. Talvez querendo aplacar a culpa pela ausência na educação dos filhos, deles eu recebia uma generosa mesada de fazer inveja a qualquer garoto da mesma idade. Porém, o dinheiro fácil me levou a perder o foco. Passei a trocar as aulas por distrações de todo o tipo e quase fui reprovado na escola.
A atual crise econômica está permitindo ao Brasil ampliar sua importância no cenário internacional. Graças a um sistema bancário sólido, um forte mercado interno, uma pauta diversificada de exportações e a uma situação privilegiada em termos de reservas, ganhamos destaque entre os países emergentes. A ponto do presidente Lula ter sido alvo de um elogio inusitado de Barack Obama, presidente dos EUA, ainda a princial potência global: "Esse é o cara.". Entretanto, precisamos continuar com os pés no chão. Ainda há muito por fazer, até consolidarmos nossa posição de proeminência nos centros de poder mundial.
Por isso, uma postura inteligente é reconhecer a existência de ciclos. Na natureza. Na vida. Na economia. Quem enxerga as coisas dessa maneira, mantém a atitude proativa de viver com equilíbrio. Desfruta dos bons momentos, mas não a ponto de esquecer o risco de que nem sempre o céu será de brigadeiro. Com serenidade, continua fazendo o que é devido, na única certeza de que Aquele lá de cima nunca lhe abandonará.
sábado, 28 de março de 2009
Façamos bem o que tem que ser feito
Semanas atrás, tive que ir correndo ao dentista. Pensei que estava tudo solucionado. Dois dias depois, o problema volta a aparecer. Fui recomendado a fazer o que tinha que ser feito: submeter-me a um longo tratamento que passaria por uma clínica de radiografias e dois profissionais altamente especializados. Só depois é que estarei liberado para voltar a saborear um delicioso churrasco.
Época de crise é pródiga na busca de soluções fáceis e rápidas. Mas observe a atual crise econômica mundial. Os países que estão sofrendo menos são exatamente aqueles que fizeram o dever de casa: mercado interno fortalecido, estabilização de preços, sistema financeiro regulado, redução do endividamento interno e externo, exportações diversificadas e o acúmulo de reservas, indispensável para uma visão de longo prazo.
Milagre até existe. Mas é bastante raro e serve apenas a propósitos específicos estabelecidos por Aquele lá de cima. No final, o que conta mesmo é a disposição de instituições e pessoas para fazerem aquilo que é necessário. Tendo coragem e disciplina para se manterem no rumo certo e, no momento oportuno, colherem os resultados positivos que sempre aparecem.
segunda-feira, 23 de março de 2009
Na crise, faça o possível com a urgência devida
(Mc 14.8)
Muito cedo, por absoluta necessidade, tive que começar a trabalhar. Meu pai foi embora, deixando minha mãe, e mais três filhos, completamente desamparada. Ingressei no mercado de trabalho através de concurso público. Na época, a coisa estava tão feia que, no dia da prova, não tive condições sequer de tomar café da manhã.
Jamais esquecerei da atitude da minha mãe naquela ocasião. Ela acompanhou-me até o local da prova e vendo a situação crítica do filho, fez o que deveria. Tirou do bolso o único dinheiro que tinha e comprou um delicioso lanche que me permitiu fazer o exame sem o ônus da fome. O resto é história de uma trajetória profissional que já dura mais de 30 anos na mesma empresa que realizou aquele concurso.
Diante da crise atual, talvez o episódio acima nos ofereça algumas lições. Encarar a gravidade da situação é o começo de tudo. Agir com o elevado senso de urgência que o momento requer. Fazer o que for possível, lançando mão dos meios e recursos que contribuam para a solução. Jamais esquecer que qualquer dificuldade se torna mais branda quando enfrentada ao lado de outros. E confiar nAquele lá de cima que sempre reconhece quando damos conta da nossa parte.
segunda-feira, 16 de março de 2009
Sempre escolha a vida
(2 Co 3.6)
Ao anunciar a excomunhão da mãe e dos médicos responsáveis pelo aborto de gêmeos numa menina de 9 anos, vítima de abusos sexuais do padrasto, talvez a intenção de Dom José Cardoso Sobrinho fosse somente seguir ao pé da letra o Código de Direito Canônico, principal documento legislativo da Igreja Católica. Dom Dedé, como é conhecido o arcebispo de Olinda e Recife, apenas não levou em conta que não pode haver comunhão sem vida.
Os membros do Comitê de Política Monetária (COPOM), ao efetuarem o corte de 1,5 ponto percentual na taxa básica de juros, reduzindo de 12,75 % para 11,75 %, também estavam apenas cumprindo o objetivo legalmente estabelecido para assegurar o atingimento das metas para a inflação no Brasil. Ocorre que sem emprego não existirão consumidores e, muito menos, inflação.
É praticamente impossível que um conjunto de leis, regras ou normativos possa dar conta da dinâmica, complexidade e sutilezas existentes nos mais variados campos da atividade humana. O exercício de análise e julgamento, necessário para qualquer decisão de caráter institucional ou pessoal, sempre carregará um importante elemento de subjetividade. Daí a importância de contarmos com princípios e valores que nos permitam enxergar com clareza, e abertura aos outros, aqueles caminhos que, acima de tudo, valorizem a vida.
segunda-feira, 9 de março de 2009
Sempre é tempo de recomeçar
Ao me aproximar da primeira aposentadoria, sinto que chegou a hora de compartilhar com os mais jovens alguma experiência adquirida ao longo de mais de 30 anos trabalhando numa grande empresa. Entretanto, hoje em dia o acesso à carreira de professor universitário exige formação cada vez mais elevada em nível de pós-graduação. Por isso, desde o ano passado decidi voltar a estudar.
Confesso que o reinício não foi fácil. Estava acostumado a chegar cedo em casa e ter mais tempo para atividades pessoais e com a minha família. Desejando resistir à cota extra de sacrifício, racionalizava que a jornada superior a 8 horas diárias de trabalho já eram mais que suficientes. Felizmente, a motivação para uma nova carreira na área de ensino tem sido bem maior.
Foi contagiante ver a emoção do jogador Ronaldo, nosso "Fenômeno", ao marcar o gol do Corinthians, aos 47 minutos do segundo tempo, no empate de 1 a 1 no clássico contra o Palmeiras. Depois de mais de um ano sem atuar em jogos oficiais, Ronaldo confirmou seu retorno ao futebol marcando um gol histórico de cabeça, curiosamente um dos poucos fundamentos defeituosos do atleta.
Ronaldo já está com 32 anos e não se encontra na sua melhor forma. Por isso, e considerando o elevado nível de preparação física exigida no futebol atual, ninguém sabe como será o desempenho do jogador durante o restante da atual temporada. Uma coisa é certa e podemos aprender com o Fenômeno: sempre é tempo de recomeçar.
Publicado no jornal O Povo
domingo, 1 de março de 2009
Quanto vale sua experiência ?
Nunca fui um aluno tão brilhante. Entretanto, em época de prova, quase sempre me saía bem. Certo dia, um companheiro de sala de aula, intrigado com aquela situação, indagou-me qual era o segredo de um desempenho tão incomum. Talvez não tenha satisfeito plenamente a curiosidade daquele colega, mas compartihei a explicação que ainda hoje tenho como a mais razoável.
Muito cedo tive que ajudar minha mãe no sustento da casa. A primeira oportunidade de trabalho que surgiu foi através de um concurso público. Lembro-me que o exame foi num dia de domingo. Estávamos vivendo na casa de parentes e, exatamente no sábado que antecedeu a prova, fomos "convidados" a sair dali e procurar um outro lugar para morar. Naquela dura preparação, começava uma caminhada profissional na empresa em que já estou há mais de 32 anos.
Algo parecido aconteceu também na vida do indiano Jamal Malik, personagem principal do filme Quem quer ser um milionário ?, grande vencedor do Oscar de 2009. O jovem conquista um prêmio milionário ao participar de um programa do tipo Show do Milhão. Com exceção de apenas uma questão, Jamal consegue responder todas as perguntas, curiosamente a partir de experiências da sua própria biografia.
Ninguém de sã consciência deseja voluntariamente passar pela experiência da dor e do sofrimento. Mas é preciso reconhecer que a luta e o enfrentamento dos desafios dários fazem parte da nossa própria existência. Por isso, uma atitude sábia e necessária é contar com a ajuda dAquele lá de cima para descobrirmos em cada adversidade o valor inestimável que somente as situações difíceis nos ensinam.
Publicado no jornal O Povo
domingo, 22 de fevereiro de 2009
Você está preparado para a crise ?
O sobrenome incomum que carrego vem de meu avô paterno. Muito jovem, imigrou de Portugal no início do século passado, primeiro para o norte e, em seguida, para o nordeste brasileiro. Através de um elevado senso de disciplina, disposição para o trabalho e capacidade empreendedora, conquistou posição privilegiada no ramo de panificação.
Ao priorizar sua vida profissional, vovô Canito entregou a educação da família inteiramente à esposa, dona Leonor. E o que é o mais grave, usou de excessiva generosidade e frouxidão nos limites com cada um dos seus 18 filhos. Quem sabe, de maneira insconsciente, era a forma que encontrava de aplacar seu sentimento de culpa pela ausência no papel de pai.
Diante da idade já avançada, vovô Canito decidiu repartir com os filhos o legado que construíra. Infelizmente, o que se viu foi a rápida dilapidação de um patrimônio edificado com tanto esforço e sacríficio. Penso que vovô morreu sem saber que a prosperidade por ele conquistada foi, em parte, a causa do despreparo e consequente infortúnio da sua descendência.
Por isso, se a crise ainda não chegou, devemos o quanto antes aprender a agradecer aproveitando as oportunidades e recursos que estão disponíveis. Tendo a consciência de a vida é feita de ciclos e que haverá momentos em que a nossa capacidade de resposta diante das dificuldades dependerá dAquele lá de cima e certamente do que fizemos em tempos de prosperidade.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Prestar contas é preciso
Em certo sentido, os acontecimentos recentes envolvendo a falência de grandes instituições financeiras norte-americanas, resultando na mais profunda crise econômica mundial desde 1929, guarda muita semelhança com os eventos de fraudes contábeis de empresas americanas, a exemplo da Enron, gigante do setor de energia que pediu concordata em dezembro de 2001.
Pelos mesmos motivos que os executivos das grandes corporações da economia real americana maquiaram balanços na tentativa de "dourar a pílula" de seus desempenhos à frente daquelas companhias, os engravatados do mundo financeiro de Wall Street, na busca de seus exorbitantes bônus, fecharam os olhos para a inevitável derrocada da farra do subprime.
Nos dois casos, a desonestidade nas fraudes contábeis e o cinismo diante dos créditos podres, ficou demonstrado que os efeitos negativos desses acontecimentos recaem, em última análise, para a sociedade. Por um lado, pela redução gigantesca e imprevista redução de postos de trabalho. Por outro, diante de uma conta descomunal a ser paga pelo contribuinte no socorro inevitável a essas instituições.
Por isso, a questão central para os governos neste momento não é discutir se há ou não necessidade de mecanismos de regulação. O desafio que se impõe de forma urgente para os principais líderes do mundo capitalista é como fazer isso de forma que a confiança seja restabelecida o mais rápido possível numa economia global cada vez mais interdependente.
Curiosamente, a maior premência para a adoção de sistemas e procedimentos mais efetivos de regulação recai sobre os países mais desenvolvidos, exatamente aqueles que foram vítimas - e, pela importância que têm, estão arrastando também o resto do mundo - de seus ideais liberalizantes excessivamente arraigados que, agora, se mostraram falíveis, como de resto se constata em tudo que é humano.
domingo, 8 de fevereiro de 2009
O poder da meta
(1 Co 9.26)
Não sei se você tem alguma meta na sua vida. Fortaleza já tem uma e bastante ousada. Ao lado de outras 16 cidades do País, a capital do sol disputa uma das 12 vagas para sediar os jogos da Copa de Mundo de 2014. Embora o resultado seja divulgado pela FIFA apenas em 20 de março, esse anseio tem unido governos, empresariado e a própria população.
Toda meta inspiradora tem um elevado poder. Pouca coisa possui a imensa capacidade para cativar mentes e corações quanto um objetivo grandioso. Alvos desafiadores mobilizam recursos que de outra forma não existiriam. Um propósito comum substitui a rivalidade pela vitalidade da união. Um objetivo claro gera um senso de que facilita as decisões. Os sonhos se constituem em fonte inesgotável de coragem, criatividade e ânimo diantes das situações adversas.
Devo admitir que nem todos alvos que imaginei na minha vida consegui transformar em realidade. Mas é fato que aquelas conquistas que hoje considero mais relevantes já existiam de algum modo na minha imaginação. Talvez tenha sido assim também com você, ao experimentar a força da meta em trazer à existência o que antes estava apenas na sua mente.
Por isso, pense seriamente em começar a estabelecer metas para sua vida. Se você já as tem, tire um tempo para revê-las. E não esqueça que suas metas devem ser inteligentes (smart, em inglês): específicas (specific), mensuráveis (measurable), alcançáveis (achievable), relevantes (relevant) e dentro de um tempo definido (time-bound).
Publicado no jornal O Povo
domingo, 1 de fevereiro de 2009
O mistério da morte
(Salmos 116.15)
O vice-presidente José Alencar, 77 anos, continua internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde se recupera de uma cirurgia que durou cerca de 17 horas para retirada de tumores na região abdominal. Felizmente, até o momento nosso vice-presidente respira sem a ajuda dos aparelhos e está consciente.
Menos sorte teve a modelo capixaba Mariana Bridi, de 20 anos, vítima recente de uma sepse originada a partir de uma infecção urinária que, em menos de um mês, custou-lhe a amputação de mãos e pés e, finalmente, a própria vida. A jovem Mariana, aparentemente, não tinha doenças associadas e deixou os especialistas atônitos diante de um caso tão raro.
A morte é um mistério. Não sabemos quando e em que condições findará nossa passagem terrena. Do ponto de vista humano, não conseguimos explicar por qual motivo algumas pessoas morrem tão cedo e outras vivem tanto. Ficamos perplexos diante da partida, muitas vezes prematura, de entes queridos que nos trazem tanto bem e a permanência de gente que só nos atormenta.
Quando confrontados pela realidade da morte só nos cabe uma certeza: uma dia cada um de nós inevitalmente a encontrará. Jovens. Idosos. Ricos. Pobres. Saúdáveis. Enfermos. Por isso, e até que a morte misteriosamente apareça, só nos resta viver cada momento como se fosse único, como uma resposta de profunda gratidão àquele que é o Autor e Conservador de toda a vida.
domingo, 25 de janeiro de 2009
Não espere por Obama
(Salmos 126.6)
Quando eu tinha por volta de 13 anos, meu pai decidiu sair de casa deixando minha mãe e três filhos complementamente desamparados. Foi um tempo de muitas dificuldades. Naquelas circunstâncias, meu maior desejo era que aparecesse algum parente ou amigo da família que ajudasse no nosso sustento e financiasse os meus estudos.
Lembro que as coisas de fato só começaram a mudar quando certo dia cheguei para minha mãe e disse a ela que estaria disposto a começar a trabalhar para ajudá-la na criação dos filhos. Pouco tempo depois, passei num concurso para a empresa onde estou há quase 33 anos. Boa parte da minha história pessoal teve origem exatamente naquela decisão de encarar a realidade e assumir minha responsabilidade como arrimo de família.
Barack Obama assume a presidência dos Estados Unidos num clima de muita expectativa, não somente das pessoas do seu País, mas seguramente do restante do mundo. É inegável que as incertezas da atual crise financeira internacional aumentam essa ansiedade. Afinal de contas, vivemos num mundo globalizado, onde os EUA têm uma importância decisiva nas áreas econômica, política e até cultural.
Mas não deixe que a expectativa em torno do governo de Obama lhe paralize, roubando o ânimo de continuar enfrentando seus desafios ou impedindo-o de enxergar com clareza as oportunidades presentes no atual contexto em que se avizinham adversidades. Siga em frente fazendo o seu melhor. E deixe que Aquele lá de cima confirme os resultados, incluindo um promissor governo do primeiro presidente negro da história americana.
Publicado no jornal O Povo